E, com seu sorriso brilhante, cativava a todos, principalmente aos rapazes, que eram evangélicos, não santos. Aliás, a igreja não os aceitaria, se fossem santos, já que não acreditam em santos. Mas, como dizíamos, ela cativava a todos, principalmente aos rapazes, que pecavam em pensamento, e não o podiam negar. De certo modo, desistiram de negar. Iam mais cedo para a igreja, na esperança de conseguir um dedinho de prosa com a bela moça. Quando ela também chegava mais cedo, era amém pra todo o lado. Quem conseguia sua atenção só pensava em aleluia.
E, quando ela passava, com seu rebolado feminino inevitável, sua natureza de bela mulher falava alto. E a natureza dos rapazes, que não conseguiam evitar um olhar indiscreto, também. Ver aquela beleza desfilar era uma bênção! Ô, glória!
Ela, um dia, ouviu os rapazes em tal exclamação. Pensou que a chamassem. Bem, falavam dela, mas não necessariamente o seu nome. Mas não assumiram. Deram um sorriso amarelo, e disseram que falavam de outra coisa. Mentir é pecado, pensaram, mas orariam pelo perdão. Não podiam era assumir a razão de sua exclamação! Certa vez, ela até deu uma bola para um abençoado. Acho que o invejaram tanto, que não teve glória que subsistisse. E Glória o pôs de lado, como uma criança que enjoa de um brinquedo. Ele apelava: "ô, Glória, me deixa não!"; e os rapazes, vendo a reação da moça, comemoravam: "Ô, glória! Ela deixou!"
Há quem diga que Glória se casou. Há quem diga que não. O fato é que nunca mais se ouviu falar em Glória. Mas, a cada exclamação, os rapazes ainda pecam em pensamento. Ô, Glória!
Pablo de Araújo Gomes, 16 de Janeiro de 2010
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Pablo de Araújo Gomes